quinta-feira, 22 de abril de 2010

Inconstância.

Frio. Calor. Frio. Calor...

Nada está tão correto como antes. Nem mesmo o tempo. Nem mesmo o que sinto aqui. Em mim. Por você e por qualquer um. Conto cada segundo que passa no relógio, à espera de algo que nem mesmo sei o que é. Suspiro. Passo lentamente as mãos por alguns fios de cabelo. Suspiro. O tic tac continua com seu zumbido em meu ouvido, me embriagando de sonhos. Sonhos distantes e por muitas vezes desencorajados. Respiro profundamente. Levanto-me e paro em frente à janela. Final de tarde, sol se pondo, sem sinal de pássaros. Silêncio. Nostalgia. Arrepio. Olho em minha volta procurando por alguém. Estava sozinha. Por escolha. Um sorriso se partiu em meus lábios. Já se passara seis meses. Longos dias recheados de lembranças vorazes e, por vezes, insensatas. Dias vagos e arrastados. Mesmo alegres. Mesmo inesquecíveis... Aprendi com a minha dor. Desliguei a falsa alegria e me joguei nos momentos bons. Era preciso. A dor me fazia sofrer. Fechar-me. Hoje sorrio. Até posso dar gargalhadas. E não importa se lágrimas se posicionam nos meus olhos. São de saudade. Dos meus momentos de carinho e de – singela – segurança. Estou bem. Cheia de amor. Cheia da falta que algumas coisas (e pessoas) me fazem. Mas sigo bem. Melhor do que antes. Quase tão melhor que aquele tempo. Tenho minhas pessoas, meus amores. Tenho minha vida. Recuperada cuidadosamente dos escombros. Por enquanto, tenho tudo que preciso. Por enquanto, não preciso de mais nada.

Second chances.

E quando se tem pela frente um feriado? E quando neste feriado só se tem uma cidade desconhecida e ninguém para guiá-lo? É ruim não ter meios de desocupar a cabeça. Meios que façam meu cérebro não mais pensar, mas agir. Ou mandar agir, se assim for o correto. Mesmo que mandasse correr louca e desesperadamente pelo grande e verde parque da cidade; mas nem isso, quiçá algo mais apurado. Tenho saudades dos meus pertences. Tenho saudades do meu tênis velho de corrida, do meu headphone quebrado, do meu rádio sem antenas. Tenho saudades das minhas músicas. Tenho saudades das minha companhias... logo eu que sempre precisei delas.

Não sei bem se posso reclamar. Estou numa cidade nova, fazendo o que até então eu acho que gosto - e que permaneça assim; não suportaria a dor de uma escolha frustrada. Tudo como eu sempre quis. Mas nada é tão fácil quanto parece. Não que eu pensasse que fosse ser fácil; nunca pensei que o fosse, mas que poderia ser melhor se as circunstâncias fossem outras. Contudo, não está em meu alcance mudar isso - pelo menos não ainda. Só sei que não vejo a hora de estar de volta ao meu espaço. Onde estou e sei que estou. E estou seguro. Não vejo a hora de retornar às minhas bases, pois aqui sou vulnerável - ou até que eu monte uma nova base aqui.

Mas uma coisa é certa: quando eu retornar, farei uso de tudo aquilo que me fez falta até que se desgaste ao máximo. Até que se acabe. Dessa forma, saberei que não mais sofrerei. É inútil sofrer pelo que não voltará mais. Pois que se acabe!

Porto Alegre, 20 de abril de 2010