segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Pai.

A primeira palavra que tenho a te dizer é carinho, pai. Pois todas às vezes que precisei de atenção ou repreensão, foi isto o que recebi. Obrigada, pai. Ainda que sem todas as palavras necessárias, aprendi cada lição que me ensinou. Queria que me pudesse ver agora, pai. Perdi toda aquela postura de criança que conheceu. Eu não tenho mais esperanças, pai.  As coisas são como devem ser. Eu envelheci, pai. As rugas expressam o pranto que tiveram meus olhos. Perdi também o dom da crença, pai. Não acredito mais em anjos, nem mesmo nas pessoas. Tem um medo enorme aqui, pai. Perco noites de sono olhando para o escuro. Às vezes eu não quero mais fugir, pai. Fico tentando acreditar que sou forte e que tenho, sim, o direito de estar aqui, nesta vida. Sua proteção me faz falta, pai. Talvez com ela eu não tivesse me tornado tão frio. Eu amo você, pai. Todos os dias com a sua ausência são empurrados. São como alfinetes nas pontas dos dedos. Eu não queria chorar, pai. Mas te ver acabando com a sua vida, e a minha, foi devastador. Você pode me ouvir, pai? De todos, eu só queria aquele “tudo vai acabar bem” vindo de você. Eu sempre lhe acreditei, pai. Até quanto mentia, as palavras se transformavam em verdades inabaláveis. Você foi meu herói, pai. Ainda que parecendo – e sendo – o vilão na maioria das vezes. Desculpe bagunçar sua vida, pai. Sei que fui uma pessoa difícil. Não tenho mais ninguém, pai. Fui ficando sozinho no decorrer dos anos. Sinto tanto a sua falta, pai. Não vou a parques desde quando você me levou a um. Eu te perdôo, pai. Por não ter sido tão bom ou tão correto como esperei que fosse. Eu amo muito você, pai. E não importa o quão imperfeito foi nosso relacionamento pai e filho. Já é tarde, pai. Espero que a noite não seja tão longa e que a sua ausência não tome conta dos meus dias. Durma com os anjos, pai. Eles não existem, mas você ainda não sabe disso. Vou seguir em frente, pai. Carregarei todos os dias de mágoa e alegria na minha memória. Eu sempre te perdoei, pai...

2 comentários:

Lara Vic. disse...

Aaaaai que triste, quase chorei. Eu simplesmenre nao consigo imaginar um pai como heroi ou vilao. Ele e apenas... Meu pai!
Maa o texto e lindo e emocionanre, eu amei.
Beeeeijos

Gabriele Santos disse...

achei interessante os aspectos abordados no texto.
Infelizmente nem sempre as relações dão certo...
mas quando há o perdão quem sabe não pode recuperar o tempo perdido.

parabéns.