sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

O Último Romântico

Ei, escuta
Já é hora, ouve
Ouve o silêncio
É agora.

Os lábios ainda estavam selados. Não havia um pingo de movimento na cena. Fixos. Até o tempo receava em se mover. Ambos era pura tensão. Um nervoso frio e rápido lhe subiu pela espinha e uma tentativa frustrada de fala foi abafada. A sua frente, um olhar de espectativa se criara. Só esperava as palavras. Mal sabia, porém, que aquele não era momento para palavras

Traduza meu olhar
Ele fala por mim, vamos, traduza
Veja o que eu tento lhe dizer
O que há tanto tempo eu tento lhe dizer

Era como se seus olhos gritassem exasperados. Aja, aja, aja! Estou aqui, por fim, aja! Contudo, nada acontecia. Ou melhor, muita coisa acontecia: as duas cabeças fervilhavam. Idéias, dúvidas, vontades, receios, planos. Estavam tão perto. Bastava um meio passo. O meio passo que os separava. Um meio penhasco os separava. Então, os olhares que fixos se cruzavam desde o início, se desviaram. E dessa forma, o outro lado do penhasco deu as costas. Então não havia mais penhasco. Eu te amo! Ditas em alto e bom som, as palavras causaram certo arrepio. E então não havia mais selo nos lábios.

Ouviu o silêncio?
Eu avisei, eu avisei. Agora ele já passou
Agora vê. Vamos, veja
É assim que começam as histórias de amor

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